Thursday, February 15, 2007

Reflexos

De quando nasce, e até à foz, consuma o rio um destino essencial: nasceu gota, morre em mar. Entretanto, definiu o seu trajecto: escorre por declives, acumula-se até transpor obstáculos. Às vezes, desfaz-se em cascatas. Logo recupera o leito virtual. Em certas épocas, tal é a seca que quase se esvai. Porém, a terra mantém as feridas da sua passagem, conserva os sulcos que a serpenteiam, para novas torrentes e enchentes. O caudal é a alma do rio: ainda outras vezes, alaga as margens, tudo inunda.

Nunca um rio será árido nem tédio: pode atenuar-se mas, por vocação, garante o solo arável.

E nada há mais cativante que um reflexo em suas águas, sobre a aparência estática. Esse espelho líquido em caprichos de traços, manchas, cores – e em que a imagem das pessoas se distorce, espalha, divaga... Vistas assim, é como se estivessem de pernas para o ar. Enquanto que, submersos, agitam-se os monstros.

30JAN2007

1 comment:

Maria Eduarda Colares said...


Vi o endereço na Truca e vim até cá. Bonito trabalho, parabéns!
Beijinhos
Maria Eduarda