Tuesday, January 30, 2007

Regresso



Nunca esquecerei o dia em que parti, ao lado de meu pai. Junto dele, criança, levado pela sua mão. Antes disso, a mãe deu-me um beijo e, no coração, pôs-me um desejo de voltar.

Foi marca que me sangrou, para sempre, com as memórias bárbaras, perdidas pelas partidas do mundo. Saído de minh’aldeia natal, já sozinho chorei a bordo dum vapor que me levava, ignorava eu para onde. Lá, no tal destino, estava um tio à minha espera, para me dar trabalho e verdejar a maturidade. Depois, precoce adulto, fiz-me à aventura qual emigrante sem paradeiro – desvirginando todas as selvas, esgravatando à unha todos os filões, construindo cidades para outros. Não tive descanso nem remorso. Desalmado, inumano. Em frente. Escravizei, desenraizei. Possuí, desapossei. Sem nada. Envilecendo, envelhecendo com o único tesouro de uma ânsia primordial.

Regresso a casa. Àquela infância, ou nesta actualidade?

24JAN2007