Tuesday, January 30, 2007

Cadeira

Trinta anos. Suponhamos que fico trinta anos aqui, assim, sem que me venham retirar. O que poderá acontecer? Ora, estarei decrépita, ferrugenta, já sem cor nem lona, uma mera carcaça asquerosa. Provavelmente não existirei mesmo, nem as árvores nem o pequeno lago à minha frente.

Trinta horas. Há umas trinta horas que me armaram, realçando esta paisagem aprazível mas tão solitária. Durante a noite, abandonaram-me. Cheguei a recear que me tivessem esquecido. Com os humanos nunca se sabe, e eu só posso exibir a minha elegância, o melhor do meu aspecto.

Trinta minutos. Hoje, finalmente, ao princípio da tarde, chegou um sujeito e sentou-se. Em calções, acabado de almoçar. Gozando o sol. Depois, levantou-se calmamente. Foi até junto da margem, molhou o pé esquerdo e, destemido, mergulhou. Há trinta minutos que não aparece à tona d’água.

José de Matos Cruz 17JAN2007